Não é a primeira vez que lideres ocidentais carregam no botão de pânico face à ameaça russa de avançar para ocidente conquistando os países europeus pelas armas depois de derrotar a Ucrânia de forma a melhor os convencer a aumentar os gastos em armamento.

E, quando em Washington, com a iminente chegada ao poder do Presidente-eleito Donald Trump, e em Moscovo, já só se fala em negociar um acordo de paz, com o Presidente ucraniano a admitir igualmente que é esse o caminho, eis que o chefe da NATO vem a público insistir na ideia de que os russos querem invadir a Europa ocidental.

Esta questão foi lançada durante o primeiro ano de guerra, não apenas pelo então secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, como por alguns lideres europeus, mas que foi recebida como ridícula por vários analistas militares e da política internacional.

O major-general Agostinho Costa, tanto na CNN Portugal como na RTP3, defendeu já em várias ocasiões em que esta questão surgiu que se trata de um não-assunto visto que se os russos não conseguem ocupar mais de 20% da Ucrânia, como podem, questionou, pensar sequer em avançar para o resto da Europa?

No entanto, e apesar de o tom ser agora de negociações, como o demonstram os preparativos para um encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin para encontrar uma saída negociada para esta guerra, Mark Rutte tirou da manga este truque já gasto e conhecido.

A ideia do holandês é que os países europeus devem gastar mais dinheiro na compra de armas, que só pode ser aos norte-americanos porque são os únicos dentro da NATO que as têm para vender em grandes quantidades, se não quiserem ver os russos a invadir as suas fronteiras.

Estas declarações não surgem do nada, porque, depois de os países da União Europeia terem sido desafiados pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a chegar aos 2% do PIB em gastos na Defesa, depois foi o secretário da Defesa dos EUA a aumentar essa fasquia para os 3% e, já mais recentemente, o Presidente-eleito, Donald Trump falou mesmo em 5%.

Isto, quando a Europa ocidental atravessa uma severa crise económica, especialmente as suas principais forças industriais, como a Alemanha, a França e a Itália, com o desligamento do gás e do crude baratos russos devido às sanções, como a razão principal para essa crise, depois de terem sido "obrigados" a comprar o gás LNG aos EUA entre 5 e 10 vezes mais caro.

Estas declarações de Mark Rutte, que surpreenderam a generalidade dos analistas, por terem sido em tempos vistas como ridículas, foram proferidas esta segunda-feira, 13, à margem de uma reunião do Comité dos Negócios Estrangeiros com o subcomité da Segurança e Defesa do Parlamento Europeu.

A exigência de mais gastos surge quando nem metade dos países membros da União Europeia conseguiram ainda alcançar a meta de 2% do PIB em gastos com a Defesa definida em 2014 e já se pensa em chegar aos 5%, como exige Trump para manter os EUA como protector da Europa na NATO, deixando no ar a ameaça de poder sair desta organização militar euro-atlântica.

Isto, porque segundo Rutte, os gastos actuais com Defesa na Europa ocidental não chegam para proteger o bloco de uma invasão russa, tendo, por isso, dito que ou os europeus gastam mais ou começam a aprender russo...

Esta situação emerge de um contexto em que a Ucrânia está na iminência de colapsar face aos extenuantes três anos de guerra para os seus recursos humanos, estando já obrigada a reforçar as suas unidades de recrutamento forçado para manter as trincheiras ocupadas...

No entanto, como sublinham os analistas mais equidistantes, as palavras de Rutte são estranhas porque não apenas se fala já de um acordo para terminar a guerra, com crescente apoio mesmo entre os países europeus, como em Moscovo o Presidente Putin quer ir ainda mais longe.

Ir mais longe para o chefe do Kremlin é recuperar os tratados de segurança internacional que os EUA abandonaram de forma unilateral nos últimos anos, envolvendo, naturalmente, a Europa ocidental, onde Washington tem dezenas de bases e centenas de milhares de militares em permanência...

Estes avisos do secretário-geral da NATO sobre a ameaça (ver links em baixo) russa surgem quando, nos EUA, o Presidente-eleito Donald Trump está a surpreender o mundo com as suas ideias sobre tomar militarmente a Gronelândia, a gigantesca ilha dinamarquesa do Ártico, e o Canal do Panamá, "por razões de segurança nacional", e ameaça fazer do Canadá "o 51º estado americano".